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Para muita gente, aniversário é sinônimo de festa, bolo, presentes e mensagens carinhosas. Entretanto, para outras, a imagem mental do soprar as velinhas pode despertar um gatilho emocional profundo e, ao contrário do que muitos pensam, isso não tem nada de frescura, exagero ou drama.
A rejeição ao próprio aniversário geralmente está ligada a experiências emocionais complexas, marcas da infância, questões com o envelhecimento e até sintomas de transtornos mentais.
Quando o ‘parabéns’ incomoda
Para quem lida com timidez intensa, fobia social ou simplesmente não gosta de estar sob os holofotes, o próprio aniversário pode se transformar em um verdadeiro campo minado emocional.
Em vez de alegria, o que surge é ansiedade: o simples fato de receber parabéns, ser marcado nas redes sociais ou planejar uma festa pode provocar um desconforto real, quase físico e, por vezes, exaustivo.
A pressão dos outros também pesa: existe uma expectativa quase universal, de amigos, familiares, colegas de trabalho, de que o aniversário deve ser celebrado, e que qualquer pessoa “normal” ficaria feliz com isso. Essa cobrança por entusiasmo, mesmo quando não é genuína, reforça o sentimento de inadequação.
“Como resultado, há quem, por aversão, opte por se isolar completamente no dia do aniversário, afastando-se das presenças físicas e virtuais, não por frieza, mas como uma forma de proteção emocional”, explica Vanessa Greghi, psiquiatra e diretora médica do IPP (Instituto de Psiquiatria Paulista).
Data nem sempre é querida
Para algumas pessoas, o dia do próprio nascimento traz à tona sentimentos de tristeza, solidão ou até dor, e isso geralmente tem relação com vivências passadas. “Muitas vezes, a raiz desse desconforto está em experiências da infância, como o fato de nunca terem tido aniversários comemorados”, observa Sirlene Ferreira, psicóloga clínica com MBA pela FGV (Fundação Getúlio Vargas0.
Quem cresceu em ambientes frios emocionalmente, sem carinho ou presença significativa dos pais, pode não ter criado um vínculo afetivo positivo com o aniversário. Em vez de alegria, a data pode representar ausência, negligência ou indiferença, situações que, com o tempo, moldam a percepção do indivíduo sobre seu próprio valor e merecimento de afeto.
Além disso, quando o aniversário coincide com perdas marcantes (como a morte de alguém especial ou algum evento traumático), ele pode deixar de ser um marco feliz para se tornar um lembrete anual de dor e ausência. A cada novo ciclo, a memória do que foi perdido se renova, e isso reabre feridas emocionais difíceis de curar.
Envelhecimento, culpa, frustração
À medida que os anos se acumulam, também se acumulam as comparações: com os outros, com as expectativas criadas no passado, com os padrões sociais de sucesso.
Quando a pessoa sente que deveria estar em outro lugar na vida, com uma carreira mais sólida, um relacionamento estável, filhos ou mais realizações, o aniversário deixa de ser celebração e se transforma em cobrança interna.
“A autoestima pode se abalar e velhas crenças de inadequação ou menos valia podem emergir”, informa a psicóloga Estela Mares Jardim Braga dos Santos, coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Anhanguera, de Vitória da Conquista (BA). A frustração com o rumo da vida pode vir acompanhada de tristeza persistente, sensação de vazio e até vergonha de não ter dado certo.
Esses sentimentos nem sempre são visíveis para os outros, mas se manifestam em forma de melancolia, irritação ou até um desejo de que o dia termine logo. Em muitos casos, envolvem quadros mais sérios, como depressão, transtornos de ansiedade ou crises existenciais. Como reforça Estela Mares: “São sinais de alerta que indicam um possível adoecimento emocional”.
Como ressignificar ou passar esse dia em paz
É possível olhar para o aniversário de uma maneira mais leve e isso não significa, necessariamente, celebrá-lo. Primeiro, se liberte da obrigação de festejar, reunir gente, e entenda que essa data pode ser vivida do seu jeito, mesmo que isso signifique silêncio, descanso e introspecção. “Ou a pessoa pode fazer alguma coisa nova, diferente, que tenha significado para ela”, diz a psiquiatra Vanessa Greghi.
Outro ponto importante é buscar ajuda profissional, sobretudo se o aniversário sempre vem acompanhado de sentimentos e emoções ruins. A psicoterapia pode ajudar a clarear o porquê de essa data pesar tanto e como lidar com ela sem sofrimento.
Para a psicóloga Estela Mares, você pode fazer do seu aniversário um ponto de partida para olhar para si e para a sua vida com mais carinho.
E se bater aquela culpa por não querer comemorar, aqui vai um recado da psicóloga Sirlene Ferreira: “Você não precisa justificar tudo que sente”. Se preferir, comunique suas preferências com carinho, mas lembre-se que respeitar seus próprios limites é um sinal de maturidade emocional. Se autoignorar para agradar os outros, ainda mais por obrigação, só aumenta o sofrimento, ressalta Ferreira.
Fonte: Uol VivaBem